

| 1º/12: Dia Mundial da Conscientização sobre o HIV e Aids |
ARTIGO: Compromisso Ético-Político da Psicologia Brasileira na Agenda do HIV e da Aids: Paradigmas Atuais e Direções Futuras
por Lucas Sousa Silveira
Falar sobre HIV sempre será fundamental, seja para revisitar a sua trajetória histórica, seja para produzir novas formas de relação com o vírus, com a saúde e com a vida. No Brasil, mais de um milhão de pessoas vivem com HIV. Embora o país já tenha sido referência internacional quando se fala de HIV e Aids, atualmente enfrenta desafios significativos decorrentes de sucessivos desmontes ideológicos, políticos e financeiros. Esses aspectos demonstram que a resposta ao HIV exige, além de avanços biomédicos, atenção às dimensões psicossociais que atravessam essa vivência.
A ampla testagem, o acesso à terapia antirretroviral e as altas taxas de supressão viral mostram importantes avanços rumo à meta 95-95-95, estabelecida pelos Estados-membros das Nações Unidas em 2021, para eliminar a Aids como ameaça à saúde pública até 2030. Contudo, o estigma, a discriminação e as desigualdades prejudicam esse progresso, como revela o estudo Stigma Index Brasil (UNAIDS, 2025).
O estigma relacionado ao HIV continua expressivo e se reinventa em diversos espaços. Seus efeitos são amplos e cumulativos, gerando invisibilização, isolamento social, prejuízos na saúde mental, adesão ao tratamento e barreiras no acesso às políticas públicas e direitos. No âmbito da saúde pública, a implementação de um cuidado integral ainda enfrenta obstáculos, como práticas discriminatórias, discursos moralizantes, lacunas formativas e fragilidades nas equipes multiprofissionais.
Nesse cenário, a Psicologia desempenha um papel central, tanto na qualificação das estratégias de cuidado quanto na defesa dos direitos humanos das pessoas que vivem com HIV. Desde o início da epidemia, psicólogas e psicólogos têm contribuído de maneira ativa para transformar essa realidade. No entanto, essa atuação precisa ser ampliada e atualizada. Isso implica repensar as políticas públicas e sociais, bem como defender a dignidade e autonomia das pessoas que vivem com HIV. A resposta brasileira à epidemia depende tanto de políticas interseccionais e transversais eficazes, quanto de gestores e profissionais capazes de promover práticas acolhedoras, críticas e transformadoras.
Visibilizar a agenda do HIV e da Aids é promover cidadania e justiça social. Não há prática psicológica ética quando se fomentam narrativas estigmatizantes ou se negligenciam realidades sociais. Reafirmar o compromisso da psicologia brasileira com essa pauta é essencial para construir respostas mais humanas, eficazes e alinhadas às necessidades de cada pessoa e território.
Pensar o HIV é reconhecer que essa experiência ultrapassa o campo biomédico: ela se inscreve nas desigualdades sociais, nas biopolíticas e, sobretudo, no estigma que persiste. A promoção da saúde de pessoas que vivem com HIV requer, além de diretrizes técnicas, um compromisso ético-político.
- Sobre o autor: Lucas Sousa Silveira é psicólogo e atualmente ocupa o cargo de coordenador-geral do CRP 01/DF. Mestrando em Psicologia Social pela Universidade de Brasília (PPG-PSTO/UnB), integra a Comissão de Direitos Humanos, Saúde Mental e Políticas Sociais do CRP 01/DF.
Documentos e materiais de referência:
1) Referências Técnicas para Atuação de Psicólogas (os) nos Programas e Serviços de IST/HIV/aids (CREPOP/CFP): https://site.cfp.org.br/publicacao/crepop-atuacao-em-programas-e-servicos-de-ist-hiv-aids/
Instrumento de orientação e qualificação da prática profissional e de reafirmação do compromisso ético-político da Psicologia, para auxiliar profissionais e estudantes no trabalho nos Programas e Serviços de IST/HIV/aids construindo práticas de proteção integral e promoção de Direitos Humanos.
2) Guia “Legislação brasileira e o HIV” (UNAIDS Brasil): https://unaids.org.br/legislacao-e-hiv/
O documento apresenta normativas do Brasil que estão relacionadas aos direitos das pessoas vivendo com HIV/aids (PVHA). A partir da Declaração dos Direitos Fundamentais desse grupo, são demonstradas as legislações estaduais do país, bem como as aplicações das mesmas.
3) Guia de Terminologia do UNAIDS: https://unaids.org.br/terminologia/
Um documento com recomendações sobre o uso de palavras que sejam cientificamente precisas e promovam os direitos humanos universais e a dignidade das pessoas que vivem com HIV. Um dos objetivos do guia é facilitar a compreensão dos principais temas relacionados ao HIV e à AIDS, bem como ao estigma e à discriminação.
4) Documentário Netflix "Carta para Além dos Muros"
Aborda a evolução da epidemia no Brasil, desde os anos 80, com base em entrevistas com médicos e pacientes.