Bem-Vinda(o)!

O CRP 01/DF está de cara nova!

Mas se você quiser ainda é possível acessar o site antigo no menu acima


CONFIRA O ARTIGO "O IMPORTANTE PAPEL DA PSICOLOGIA NA AFIRMAÇÃO DA VIDA DE PESSOAS TRANS", DE AUTORIA DO PSICÓLOGO FELIPE DE BAÉRE

CONFIRA O ARTIGO "O IMPORTANTE PAPEL DA PSICOLOGIA NA AFIRMAÇÃO DA VIDA DE PESSOAS TRANS", DE AUTORIA DO PSICÓLOGO FELIPE DE BAÉRE


Compartilhe conhecimento você também! Edital para apresentação de artigos disponível em: https://www.crp-01.org.br/notices/8414


Por Felipe de Baére (CRP 01/19621)*

Na semana em que se promove o Dia da Visibilidade Trans (29 de janeiro), torna-se ainda mais relevante trazer apontamentos que visam a aproximar a práxis de profissionais da Psicologia ao universo de pessoas transexuais e travestis. Tendo em vista que o ano se inicia com a divulgação de muitos casos de suicídio e de homicídios praticados com extrema crueldade contra essa população, precisamos refletir sobre o impacto da transfobia na saúde mental desses sujeitos. Portanto, inicialmente, é imprescindível acompanhar as demandas de pessoas trans, sem o agenciamento de quaisquer preconceitos por meio da patologização de suas existências.

Uma parcela dos profissionais da Psicologia utiliza o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) e/ou o Código Internacional de Doenças (CID) como bússolas norteadoras de suas ações. E ainda que essas obras estejam suprimindo a conotação patológica atribuída às existências trans a cada edição, ambas persistem na lógica de que os sujeitos em conformidade com o gênero que lhes foi atribuído no nascimento (cisgêneros) são o referencial de normalidade.

O diagnóstico “Disforia de Gênero”, presente na quinta edição do DSM, e “Incongruência de Gênero”, como pretende abordar a décima primeira edição do CID, presumem a existência de uma identidade de gênero natural, genuína. No caso, a cisgeneridade. Portanto, entende-se que o critério de normalidade proposto pelas obras científicas é o estatístico, ou seja, os contornos do que é considerado “normal” são delineados pela maioria da população. O problema de tal parâmetro, nesse caso, é desconsiderar o impacto sociocultural na construção de universos simbólicos que, por sua vez, repercutem na produção de subjetividades. Se hoje é mais viável para as pessoas se afirmarem trans, é porque tem se tornado possível contar com a disponibilidade de um maior aparato simbólico para essa identificação. 

Logo, é possível observar um impasse: embora muitos profissionais da Psicologia se orientem por esses manuais de classificação de doenças, já existe o entendimento, por meio da Resolução 01/2018 do Conselho Federal de Psicologia, de que nossa categoria não deve exercer quaisquer atividades que propiciem a patologização de transexuais e travestis. Consequentemente, ainda é comum os relatos de pessoas trans que se sentiram desconfortáveis com profissionais que acompanharam suas demandas na clínica de maneira enviesada. Atribuir unicamente à causa do sofrimento psíquico de pessoas trans a sua própria transgeneridade, por exemplo, é ignorar toda a estrutura social transfóbica que opera na vulnerabilização da vida dessas pessoas.

O mesmo costuma ocorrer nas justificativas específicas dadas ao suicídio de pessoas trans. Comumente, à causa do autoextermínio é atribuída o adoecimento mental, um transtorno específico. “Tinha depressão”, “Era borderline”. De fato, o sofrimento psíquico insuportável é vivido pela maioria das pessoas que tira a própria vida, mas o comportamento suicida não deveria se resumir a um psicodiagnóstico, que pode ter como consequência a restrita responsabilização da pessoa pelo seu ato, desconsiderando os contextos nos quais ela está inserida. Por trás de uma pessoa que se mata, há múltiplos fatores que a fragilizam ao longo da vida, sendo que, para determinadas pessoas que não se enquadram nos padrões normativos, esses fatores envolvem todas as violências, físicas, materiais e simbólicas sofridas por elas, unicamente por não estarem alinhadas ao que é estabelecido como normal e apropriado.

Portanto, para que a nossa categoria elimine da prática clínica vieses transfóbicos, preconceituosos, é preciso que seus profissionais se aprofundem nas temáticas sobre identidade de gênero, leiam a Resolução CFP n° 01/2018 e tirem suas dúvidas com quem já tem familiaridade com esses casos. Ampliar nossos olhares neste campo é uma forma de nos aproximarmos dos princípios apresentados em nosso Código de Ética Profissional e faz com que a Psicologia se torne ainda mais aliada na luta pela afirmação da vida de pessoas trans.

*Felipe de Baére (CRP 01/19621)

Membro da Comissão Especial LGBT do CRP 01/DF
Doutorando em Psicologia Clínica e Cultura - UnB│PPGPsiCC
Mestre em Psicologia Clínica e Cultura  - UnB│PPGPsiCC
Psicologia - Bacharelado, Licenciatura e Habilitação Psicólogo - UnB│IP
Lattes: http://lattes.cnpq.br/0668779871360817  

---

Você pode ler e este e outros artigos clicando aqui.



<< Ver Anterior Ver Próximo >>