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CRP 01/DF ENTREVISTA: APOIO COMUNITÁRIO E ARTICULAÇÃO EM REDE SÃO ESTRATÉGIAS ADOTADAS POR PEQUENOS PRODUTORES RURAIS ASSENTADOS NO DISTRITO FEDERAL PARA ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA E ACESSO A DIREITOS NO CAMPO

CRP 01/DF ENTREVISTA: APOIO COMUNITÁRIO E ARTICULAÇÃO EM REDE SÃO ESTRATÉGIAS ADOTADAS POR PEQUENOS PRODUTORES RURAIS ASSENTADOS NO DISTRITO FEDERAL PARA ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA E ACESSO A DIREITOS NO CAMPO


Neste Dia Nacional de Luta contra a Violência no Campo, o CRP 01/DF compartilha entrevista com a diretora da Cooperativa Agroecológica Carajás, Lindaura Medrado dos Santos

Em 12 de agosto é celebrado o Dia Nacional de Luta contra a Violência no Campo, data que homenageia a sindicalista e trabalhadora rural Margarida Alves, assassinada no contexto de conflitos agrários no estado da Paraíba em 1983.

Neste mês em que organizações e movimentos sociais de luta campesina chamam a atenção da sociedade e das autoridades públicas sobre o tema, o Conselho Regional de Psicologia do Distrito Federal (CRP 01/DF) convidou a produtora agrícola, Lindaura Medrado dos Santos, para compartilhar desafios enfrentados por pequenos produtores rurais assentados no Distrito Federal. Secretária-geral da Cooperativa Agroecológica Carajás, Lindaura aborda conflitos enfrentados na região do assentamento Oziel Alves, em Planaltina, compartilha preocupações em relação às condições de saúde de moradores da região e fala de estratégias adotadas para enfrentamento da violência e acesso a direitos no campo.

Confira:

1) Como a senhora percebe o contexto de vida e saúde de trabalhadores rurais assentados na região? Existe acolhimento por parte da comunidade?

É muito comum entre os produtores uma ansiedade em relação ao aspecto financeiro, se a produção vai dar certo, se vão conseguir vender seus produtos, como vão escoar a produção. Isso acaba impactando a mente da pessoa e também fisicamente, né? Não costuma haver muito acolhimento dos grandes porque eles não gostam muito dos pequenos produtores ao redor. Há afastamento mesmo, tentam prejudicar, jogam veneno de avião que atinge a produção, e a pessoa que produz orgânicos já perde a expectativa de sua produção ser 100% sem veneno. Impacta muito essa situação de ter os grandes ao redor e os pequenos bem no meio. Eles não gostam, sempre tem um ataque, há desprezo. Onde deveria ter apoio, não tem. O apoio que tem é o da cooperativa, que chega junto, propõe somar nesse trabalho coletivo para fortalecer e manter o campo de pé ao associar agroecologia e reflorestamento. Lá perto, o cheiro é muito forte e aí acabamos em hospitais cheios de gente afetada pelo veneno. Lá no assentamento Oziel Alves mesmo, teve uma situação de uma pessoa que morreu por causa do veneno. Esse é um tipo de violência que impacta muito a saúde do pequeno produtor e que é mais comum.

2) A senhora comentou sobre a preocupação de trabalhadores rurais com o escoamento da produção e imagino que as mulheres produtoras tenham preocupações adicionais nesse cenário de conflitos. Existem ações da cooperativa voltadas diretamente para esse público?

A cooperativa sentou e discutiu um trabalho com as mulheres até que a gente conseguiu que fossem aprovados os Quintais Produtivos [iniciativa governamental do Brasil que visa promover a produção de alimentos por agricultores familiares, utilizando práticas agroecológicas] para 300 mulheres, e a cooperativa vai dar o apoio para fortalecê-las lá no campo. A maioria ficou com a parte do galinheiro, né? Com a galinha, com o ovo, e agora temos a expectativa de gerar renda tanto para elas como para suas famílias no campo. Outra parte foi para frutíferas porque a cooperativa também trabalha com frutas, ajudando as mulheres do campo e os programas de governo que precisam de muita fruta. Assim, vai melhorar a saúde, vão conseguir segurar seus filhos no campo porque vai gerar renda e tudo isso.

3) Como tem sido a oferta de serviços públicos na região do assentamento?

No assentamento Oziel Alves, temos um postinho de saúde. Se precisam de mais alguma coisa, as próprias famílias procuram fora, outros hospitais, mas ficam procurando por muito tempo. Meu pai precisou e teve de ir a um particular. Colocam uma fitinha lá no braço e você fica o dia inteiro no hospital “a Deus dará”.

4) Nesses casos em que a senhora comentou que as pessoas ficam ansiosas com os conflitos na região e com o escoamento da produção, vocês conseguem atendimento com profissionais de saúde mental, como psicólogas? Você acha que esse tipo de acolhimento poderia ajudar?

Não conseguimos. Acho sim que poderia ajudar com orientações, ouvir a pessoa, entender e direcionar o que poderia fazer. Tem que ter um programa voltado mais pra isso, né? 

5) Na sua experiência com o trabalho da cooperativa, esse esforço coletivo tem fortalecido a resistência de produtores agrícolas e principalmente das mulheres contra a violência e dificuldades de acesso a direitos no campo?

A gente faz reunião e discute em todos os lugares para a gente ouvir a população, ouvir o produtor. Depois a gente trabalha em cima do que a gente ouviu para ver se a gente consegue amenizar, melhorar a situação no campo. A gente tem um grupo voltado para isso. A gente está há quase um ano aí com eles e tem ajudado bastante nessa questão técnica do campo junto ao produtor. 

6) Imagino que isso também se reflita positivamente até para as outras propriedades ao redor, já que com as práticas de agroecologia vocês cuidam do ambiente para todos. A comunidade consegue enxergar esse valor no trabalho desenvolvido pelos pequenos produtores de orgânicos naquela região?

O problema é que a gente consegue conservar a questão da água, mas eles próprios [proprietários de propriedades mais extensas] não cuidam da nossa água. A gente mantém o solo coberto lá e eles conseguem ainda sugar a água do nosso território que está sendo reflorestado. Se está reflorestado, está úmido, tem água ali sendo conservada. E lá mesmo eles abrem uma tubulação para dentro, um poço não sei de quanto que suga a nossa água que está sendo conservada. Ultimamente, a gente cuida da água para eles usarem. 

7) Como a população do DF, profissionais das diversas áreas e, especialmente, profissionais de saúde, podem trabalhar para apoiar iniciativas como essa e também o acesso a direitos de pessoas trabalhadoras do meio rural?

Eu acho que precisamos de mais apoio para a saúde no campo, uma kombi ou marcar um dia de atendimento para aquela comunidade para falar sobre a saúde, fazer o encaminhamento para que a pessoa consiga se consultar. Eu acho que ajudaria muito esse apoio porque a gente sai para procurar ajuda, acaba ficando lá o dia todinho e só nos últimos casos é que consegue ser atendido, mas se tivesse esse apoio lá dentro mesmo, dessa assistência voltada para a área rural, para o pequeno produtor, eu acho que conseguiria amenizar essas filas no hospital e conseguiria resolver essa questão da saúde porque, quando é época da dengue, a situação piora, na chuva piora mais ainda e assim vai. Assim, já levaria tudo pronto e já facilitaria ali no hospital porque a saúde está bem precária.

Saiba mais:

- Vídeo produzido pelo CRP 01/DF em 2023 destaca desafios enfrentados por trabalhadoras e trabalhadores rurais no acesso às políticas públicas para o bem viver. Assista em:
https://www.youtube.com/watch?v=jNTkjV9IBj4&t=9s 

- Referências técnicas para atuação de psicólogas (os) em questões relativas à terra (Crepop, 2019). Acesse em:
https://crepop.cfp.org.br/wp-content/uploads/sites/34/2022/10/008-Crepop-Referencias-tecnicas-para-atuacao-de-psicologas-em-questoes-relativas-a-terra.pdf

- Se você deseja se aprofundar neste e em outros temas emergentes no exercício da profissão, acesse as publicações disponíveis para download na página eletrônica do Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (Crepop):
https://crepop.cfp.org.br/ 

#DescreviParaVocê: cards coloridos com destaque para o Dia Nacional de Luta contra a Violência no Campo, celebrado em 12 de agosto, e chamada para leitura de entrevista com a diretora da Cooperativa Agroecológica Carajás, Lindaura Medrado dos Santos. No primeiro card, há uma imagem de um trabalhador rural em uma plantação, utilizando uma máscara para protegê-lo do veneno; no segundo card, há uma foto da entrevistada e um breve trecho da entrevista.



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