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ENTREVISTA COM A PSICÓLOGA E TERAPEUTA SEXUAL LUÍSA MIRANDA

ENTREVISTA COM A PSICÓLOGA E TERAPEUTA SEXUAL LUÍSA MIRANDA


Confira!

No mês em que se comemora o Dia dos Namorados, o Conselho Regional de Psicologia do Distrito Federal (CRP 01/DF) traz diversos profissionais de Psicologia para discutir o tema relacionamentos. Na entrevista de abertura, convidamos a psicóloga e terapeuta sexual Luísa Miranda para falar sobre a relação amor e sexo, desmistificando dúvidas comuns sobre o tema. Confira:

O que o caracterizaria um relacionamento saudável? É algo que existe no mundo real ou um ideal a ser buscado?

Um relacionamento saudável é aquele em que as pessoas envolvidas estão satisfeitas com a forma que a relação está sendo construída. Todavia, individualmente as partes também precisam estar em processo de construção e amadurecimento. Para que esse tipo de relacionamento exista, é necessário entendermos que é uma busca constante, visto que estamos em um processo de evolução contínua. Do ponto de vista sexual, vale ressaltar que a nossa sexualidade está relacionada com quem somos e como expressamos isso, seja através de pensamentos, sentimentos, seja através das nossas relações profissionais, familiares, amorosas e claro, com nós mesmos. A forma como nossa sexualidade acontece e flui não é linear. Dessa forma, o autoconhecimento e o diálogo se tornam mais que essenciais para a construção de um relacionamento saudável, independente de qual modelo seja.

Quando procurar terapia sexual? E terapia de casal? Como funciona cada uma delas e o que se pode esperar como resultado?

Infelizmente, as pessoas ainda buscam a terapia quando várias alternativas de resolução de conflitos não foram bem-sucedidas, o que dificulta um pouco o processo. Porém, diferente do que muitos ainda acreditam, a terapia sexual pode ser bem-vinda a qualquer momento, justamente por proporcionar uma percepção diferente e mais ampla sobre a nossa própria sexualidade e suas consequências. Ou seja, a partir do momento em que nos conhecemos melhor, nos tornamos capazes de compreender o motivo de muitas das questões sexuais acontecerem como, por exemplo: dor nas relações sexuais, pouca ou nenhuma lubrificação ou desejo; dificuldade de manter a ereção, dentre outras coisas que afetam não só a relação conjugal, mas a nossa relação com nós mesmos e nosso corpo, nossos papéis sociais e por diversas vezes nosso profissional e religioso. Em relação à terapia de casal, muito do que é trabalhado diz respeito a como foi o processo de aprendizado de cada um e como isso afeta a relação. Habilidades comunicativas, de percepção do próprio corpo, ressignificação de valores e crenças são também trabalhadas com o propósito de melhorar a dinâmica e construção daquela relação, visando o que é saudável para cada um dos envolvidos.

Como medir a satisfação/felicidade em um relacionamento?

Apesar de existir uma expectativa social do que é um relacionamento saudável, não percebo sendo papel do profissional dizer o que é ou não saudável. Ou seja, de uma forma geral, cabe a nós entendermos que existem várias formas de relacionamento e que, desde que haja respeito e consentimento sobre o que acontece, está tudo bem. Tudo isso para dizer que não existe uma resposta certa de como medir isso. Cada indivíduo em sua subjetividade vai vivenciar essa satisfação e felicidade da forma como se sente melhor naquele momento.

Sexo pode ser usado como um termômetro da relação? Se sim, em que medida?

Depende do que é sexo para cada um dos envolvidos. Se for apenas penetração, não. Porém, se for um sexo que tenha intimidade, envolvimento, entrega e parceria, com certeza sim. Afinal, sexo também é uma forma de expressarmos quem nós somos e por isso é tão complexo queremos resumir a apenas um ato. Quando vamos para cama com alguém, vamos com toda a bagagem de vida dela.

Pornografia pode interferir (positiva ou negativamente) na vida sexual dos indivíduos e dos casais? Se sim, como?

A pornografia influencia o nosso processo de aprendizagem sobre o que é o sexo, como ele funciona e como devem ser os comportamentos das pessoas ali envolvidas. E, como toda forma de aprendizagem, precisamos questionar quais valores e crenças estão presentes ali. Infelizmente, muitas das referências sexuais encontradas nos filmes adultos não valorizam as mulheres, o afeto e focam muito na genitalização, associando o prazer a apenas alguns lugares do corpo (pênis, vagina, seios e ânus, praticamente). Por esses e outros motivos, outras formas de pornografia estão surgindo com o propósito de ampliar esse conceito, incluindo no cenário as fantasias sexuais e outras práticas que envolvam mais o diálogo e todo o contexto de relacionamento.  Sendo assim, se usada como alternativa para ampliar e/ou trazer nossos conhecimentos acerca de posições e práticas seu uso pode ser favorável. Mas se o objetivo é o prazer imediato ou fuga (de uma situação ou sentimento desagradáveis, rejeição ou julgamento do parceiro ou da parceira) as consequências podem ser mais delicadas e oferecerem ao relacionamento um risco no que se diz à qualidade.

O ideal do amor romântico ainda domina os anseios dos casais que buscam a terapia? “Salvar” o relacionamento é sempre continuar juntos?

Sim, nós mulheres crescemos e aprendemos socialmente a encontrar e a estar sempre em busca de um príncipe encantado (muito devido aos filmes de contos de fadas). Já os homens, em busca de uma mulher que aceitasse ou reproduzisse aquilo que fosse passado nos filmes adultos ou ainda descritos e vistos nas revistas para homens. É óbvio que existem as exceções, mas, do ponto de vista clínico, são as referências que mais aparecem sendo quase todas também influenciadas pela religião e opressão do lado das mulheres e excesso de liberdade para o lado dos homens. Todavia, não me recordo de nenhuma dessas influências nos ensinar a questionar o amor, os tipos de amor, o significado do que é relacionamento para ambos ou ainda nos ensinar a nos comunicarmos sobre as nossas demandas. Tenho percebido que as pessoas querem viver um relacionamento feliz, mas não percebem que a maturidade emocional é mais que necessária para que isso aconteça. Não conseguir manter um relacionamento não deve ser sinônimo de fracasso, como vejo acontecendo no consultório. Mas, sim, como sinônimo de um possível descompasso e/ou inadequação, seja emocional, seja sexual, seja de valores. Estamos em processo de mudança sempre. E quase nunca será fácil.

Como os casais que procuram o consultório em sua maioria têm lidado com formas de relacionamento como o poliamor, os trisais e as relações abertas? A conversa sobre essas alternativas já deixou de ser um tabu na nossa sociedade?

De forma alguma. Normalmente, as pessoas que buscam a terapia sexual são aquelas que ainda se sentem inseguras em relação à própria sexualidade e não possuem uma maturidade emocional e sexual para perceber que existem outras formas e que elas podem ser possíveis. Ainda associamos amor a posse e ciúme. Desconstruir isso sem afetar ou invadir os valores e crenças pessoais é muito delicado. Mas, para mim, rotular qualquer que seja o relacionamento também é delicado. Trabalho muito com o que a pessoa tem como algo palpável, real e saudável, independente do nome que venha a ter.

*Luísa Miranda é psicóloga, terapeuta sexual, especialista em Psicologia e Sexologia e apresentadora do programa de rádio Sexy Night na JK FM. Atua como psicoterapeuta clínica e ministra palestras em instituições a fim de desmistificar e ressignificar a sexualidade.



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